19 de fevereiro de 2008

O (pequeno) príncipe

“Quem quiser fazer profissão de bondade não pode evitar sua ruína entre tantos que são maus”

O príncipe, de Maquiavel, é sem dúvida um dos livros mais influentes na nossa história. Talvez o segundo mais influente, após a Bíblia. Leitura considerada indispensável por 11 em cada dez repetidores de sensos comuns, então me pus a lê-lo.

O livro é de uma honestidade incomum, pois trata das dificuldades do controle e da manipulação do povo como se essas questões não fossem... bem, maquiavélicas.
Percorrendo todas as nuances de ser um príncipe (no caso, um déspota que reina sobre alguma localidade, conquistada ou herdada, como era comum antigamente), de conquistar novos territórios e impedir a população de se rebelar nos seus já conquistados, ele apresenta insights sobre comportamento, técnicas e atitudes.
Não é à toa que a frase “os fins justificam os meios” é (erroneamente) creditada a ele.

Maquiavel afirma categoricamente que o homem é mau, só deixando de sê-lo quando há benefícios para isso. É um dos extremos da compreensão dos homens, onde, curiosamente, parece ser o oposto da visão de O pequeno príncipe, o clássico infantil-para-adultos de
Saint-Exupéry.

Le petit prince é uma leitura muito mais leve (como dificilmente deixaria de ser, tendo sido publicado 400 anos mais tarde), que ao contrário do amoral guia italiano, nos deixa esperançosos e contentes com nossa natureza. O ser humano não é mau, só é levado a ser com maus hábitos adquiridos quando larga a infância. Sim, são livros com propósitos e contextos diferentes, mas que se encontram nessa análise humana. “O príncipe” é lido e cultuado desde antes da Idade Contemporânea; sempre correto, graças à ganância dos “animais racionais”, e é o livro de cabeceira de vários governantes, entre eles o ex-presidente FHC. “O pequeno príncipe” é o livro de cabeceira da Carla Perez. Ainda assim, a mensagem do segundo é mais atraente, quem sabe até nos faça pessoas melhores.

Sei que entre eles, eu escolho “O pequeno príncipe” e iria preferir ter à minha volta pessoas que fizessem o mesmo.

Ps: ainda assim, entro na lista dos que recomendam a leitura de “O príncipe”. Mas recomendo também O pequeno, para aliviar a frieza maquiavélica...


8 comentários:

Pedro Santana disse...

Hum, nunca li, ok ok, sem infância, se for aquele livro, que era pra ser infantil, mas é tão complexo que não deveria ser considerado literatura infantil? Haha, vou ver se leio um dia :)

João Gabriel disse...

Eu realmente teria dito "sem infância!" se você não tivesse se prevenido :)
Não é bem por ser complexo, e sim porque tem uma mensagem bonita pra todos, uma coisa meio "olha o que você deixou para trás quando virou um adulto"
Leia, é bem curtinho

ps: como você achou o blog? :)

Pedro Santana disse...

no orkut
visitei aqui denovo pra ver o que tu tinha falado do meu comentário, dai voltei hoje denovo pra ver o que tu falou desse, hoho

Anônimo disse...

Escolher o Pequeno Príncipe e o Príncipe, em minha modesta opinião, é escolher entre a Ilusão e a Realidade, respectivamente.

Anônimo disse...

Penso que acabei de escrever foi uma síntese do que você disse, mas tudo bem....

Unknown disse...

No meu tempo saudoso de filosofia, teatro, jogral, esporte, e muita leitura, Machiavel gerou a expressão 'maquiavélico' e assim era tido. Até alguém citá-lo como exemplo de sucesso e ser literatura básica em administração. Só para dizer que andei lendo seu blog e me senti mais normal em algumas restrições...revistas,livros, religião,e o engôdo da 'Liberté, Igualité, Fraternité' - e olha que nasci em 14/07.

Mariana disse...

Também devo ser uma sem infância por não ter lido o Pequeno Príncipe. E gostaria de nunca ler, pra mostrar que posso ser uma boa miss universo sem tê-lo lido!
Mas seus agumentos me fizeram querer ler ambos os Príncipes.
Vou colocar na minha lista.
E nunca mais quero ser miss.

Mariana disse...

Ler O Pequeno Príncipe me deixou com uma certa nostalgia da infância. Não sei se uma infância que realmente existiu em minha vida, mas uma infância que teria sido realmente interessante.
Como eu seria hoje se pensasse e questionasse as coisas da mesma maneira que o principezinho fez? Não sei; talvez não tivesse feito tanta diferença na minha vida; tampouco na dos adultos.
Mas lendo a obra hoje, em uma época em que me sinto intelectualmente mais capaz que uma criança e que um adulto, reconheço que sua mensagem é atraente, apesar de não acreditar que isso me tornará uma pessoa melhor. Talvez até torne, indiretamente, já que a leitura me causou uma vontade de reparar mais na existência e na beleza das coisas e pessoas.