29 de junho de 2010

As ruas e a Copa do Mundo

Todo mundo imagina que as ruas das cidades devem ficar desertas durante os jogos do Brasil na Copa do Mundo. Eu, que não faço questão de torcer por alguns desconhecidos contra outros desconhecidos só porque aconteceu de os primeiros nascerem no mesmo pedaço de terra limitado por linhas imaginárias que eu (ufa!), aproveitei a ocasião para um tour pela cidade, de bicicleta e câmera fotográfica na mão. Foi dia 28/06, no jogo das oitavas-de-final, Brasil e Chile. A cidade é Florianópolis, no caso. Clique nas imagens para vê-las em tamanho bom e escolha suas favoritas!













1. 15h20, Av. Mauro Ramos
2 e 3. 15h40, Av. Hercílio Luz
4 e 5. 15h50, Rod. Gov. Gustavo Richard
6. 15h55, Av, Paulo Fontes
7. 16h, Conselheiro Mafra
8. 16h, Rua Tenente Silveira
9. 16h10, Rua Arcipreste Paiva
10. 16h25, Av. Paulo Fontes
11. 16h45, Av. Beira Mar
12. 16h50, Av Beira Mar

26 de junho de 2010

Florianópolis e a tarifa do ônibus

A prefeitura de Florianópolis novamente nos brindou com um aumento nas tarifas de ônibus recentemente. A notícia é de maio de 2010, mas poderia ser de 2006, 2007, 2008 ou 2009 (duas vezes!). Em 2004 e 2005, aumentos na tarifa foram revogados devido à força das manifestações populares, porém desde então as reivindicações da sociedade não têm alcançado vitórias claras, apesar de acontecerem anualmente.

A julgar pelo tamanho das manifestações, pela organização e pelo apoio da sociedade como um todo, este ano parece propício para novamente barrar um aumento que é ilegítimo (a tarifa mais cara do país, com aumentos muito acima da inflação, para um serviço ruim, etc.). Porém, impedindo ou não o aumento, o movimento terá fracassado se não fomentar com toda a população a discussão sobre a importância do transporte coletivo em garantir o direito constitucional de ir e vir, além de ser fundamental para diminuir a poluição, melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida geral.

Tarifa nova
Os ônibus são essenciais para a locomoção de uma grande parcela da sociedade, que não pode ou não quer ter carros e motos. Eles transportam muito mais gente com menor gasto de espaço e combustível – ou seja, por menos dinheiro e poluição. Porém, devido ao serviço ruim e caro, não é justo cobrar da população que troque o conforto e a autonomia do carro pessoal pelo ônibus lotado e com poucos horários, especialmente quando essa troca nem valeria a pena financeiramente! Pedro Magalhães, estudante de Engenharia Mecânica da UFSC, fez os cálculos para um carro que rode 10km por litro, a um preço de 2,50R$ por litro de gasolina, além de mais 0,10R$ a cada quilômetro em manutenção do carro, e sumarizou os dados no gráfico abaixo. Dirigir oito quilômetros sozinho de carro é mais barato que ir de ônibus!


Como pode um meio de transporte incrivelmente mais eficiente custar mais caro? A resposta é que o sistema é gerido por empresas, apesar de ser um serviço público. E, ao contrário dos governos que precisam ao menos conquistar metade da população uma vez a cada quatro anos, as empresas podem se preocupar direta e unicamente com seus lucros. Oficialmente, a prefeitura deveria fiscalizar a qualidade do serviço e tem poder legal para retirar a concessão das empresas, caso elas não estejam satisfazendo a população. No entanto, o que vemos é nosso prefeito ratificando todo ano os aumentos na passagem. Dário Berger se elegeu em 2004 com a proposta de abrir a “caixa preta” do transporte público, mas até hoje os lucros dos donos das empresas não são divulgados. Inclusive, o período legal da concessão das companhias que fornecem o serviço expirou em 2009, mas ainda não foi feita nova licitação.

Tarifa zero
Na contra-mão da valorização do transporte individual poluidor e ineficiente, existe a proposta da municipalização do serviço e da instituição da tarifa zero – transporte coletivo gratuito. Tal medida seria um grande incentivo para o uso dos ônibus, provavelmente acabando com os congestionamentos diários, diminuindo muito a poluição do ar da nossa cidade, a queima de combustíveis fósseis geradores de gases do efeito estufa e o gasto com novas estradas, viadutos, túneis e manutenção das ruas cada vez mais tomadas por carros. Além do mais, propiciaria o acesso livre à cidade como um todo para a população inteira, não apenas para os privilegiados motoristas.

Obviamente, alguém precisa bancar salários dos motoristas, manutenção, frota, combustível, etc. Porém, assim como a saúde e a educação públicas, esse serviço poderia ser pago indiretamente pela população através dos impostos. Mas isso não mudaria a situação caso não fossem instituídos impostos graduais, relativos à renda de cada família. Assim, quem tem muito pagaria muito; quem não tem, não paga. Todos teriam acesso pleno à cidade e uma nova política de redistribuição de renda seria implantada, fomentando justiça social. Existem outras opções: tributação sobre combustível e carros ou sobre os maiores geradores de tráfego, como indústrias, comércio e shopping centers, que também se beneficiariam do livre trânsito dos trabalhadores e demais habitantes da cidade.

A ideia parece utópica, mas ela já foi implementada e bem-sucedida em muitas cidades no mundo todo. Hasselt, na Bélgica, foi a primeira cidade do mundo a possuir passe livre em todas as suas linhas de ônibus, em 1996. Em dez anos, o uso de ônibus aumentou mais de 13 vezes e atualmente Hasselt possui poucos carros nas ruas (13x menos), mas muitos ônibus e bicicletas. Até na cidade de São Paulo, no início da década de 90, houve tarifa zero em alguns bairros da cidade, durante o governo de Luiza Erundina, à época do PT, mas que não foi mantido pelo governo que se seguiu, de Paulo Maluf.

A tarifa zero é viável e altamente positiva para a sociedade como um todo, tanto em termos sociais, visto que propicia a redistribuição de renda e torna real o direito de ir e vir, garantido na nossa constituição, quanto em termos de sustentabilidade, pois o ônibus é um meio de transporte muito mais eficiente, que polui menos e diminui nosso impacto no meio-ambiente. A sua implementação depende, basicamente, de aprovação popular. Se a cidade insistir, os políticos terão que aderir à causa.

Por uma vida sem catracas!

Mais informações:
http://tarifazero.org

http://lataofloripa.libertar.org

http://twitter.com/lataofloripa