21 de setembro de 2008

Deus e Deus

Trecho do duplamente fantástico (ótimo e fantasioso) livro Incidente em Antares:

— Eu quisera acreditar em Deus e na vida eterna. Mas não posso. Nunca pude. Mas acredito nesta vida. E como! Tenho esperança num futuro melhor para nossa terra, para o mundo. Quero que meu filho nasça, cresça e viva para participar desse mundo.
— Isso é religião — disse-lhe baixinho. — Você diz que não acredita em Deus, mas vejo que acredita em todos os seus pseudônimos.

O primeiro falante é um defensor dos direitos humanos e da liberdade que foi morto pela polícia que o interrogava acusando-o de comunista; o segundo é um padre defensor dos oprimidos, algo meio Teologia da Libertação.

Quisera eu, como ateu, que o ideário ao redor de Deus fosse mesmo esse descrito pelo padre esquerdista. Deus sendo apenas amor ao próximo, luta por um futuro melhor, paz e direitos aos seres. Pessoa alguma no mundo precisaria escrever um livro propagandeando o ateísmo, pois o efeito do suposto Deus seria algo infinitamente bom, ao contrário da discriminação, separação entre povos e manipulação que ele traz na vida factual.

Aos religiosos: mais Deus, menos religião! E viva a liberdade de crença ou ausência dela.

8 de setembro de 2008

Curiosas

Paradoxo de Fermi
Há muito se especula sobre a existência de vida em outros planetas. Carl Sagan, grande divulgador da ciência, chegou a dizer que fazer contato com vida extraterrestre seria o maior momento da civilização humana. Com a devida licença dos (enganados ou enganadores) defensores das abduções alienígenas, que não parece ser um grupo expressivo no Brasil, ao contrário dos EUA, digo: nunca foi provada a existência de vida inteligente lá fora; muito menos contato conosco.

Por que não? A vida conseguiu surgiu na Terra e não precisou de grandes ou improváveis condições. Bastaram alguns compostos flutuando por aí, somados a uma quantia enorme de tempo livre para se associarem. O Universo é incrivelmente vasto (e isso não é retórica, realmente não cabe na compreensão humana a noção de seu tamanho), só a nossa galáxia possui 400 bilhões de estrelas, cada uma com vários planetas orbitando à sua volta. Ela é uma de inúmeras galáxias. Nós já temos tecnologia para mandar mensagens de rádio ao espaço, esperamos que elas cheguem a alguém, assim como esperamos recebê-las de alguém. Este é o chamado paradoxo de Fermi: se há vida inteligente fora da Terra, como ainda não estabelecemos contato?

Algumas de suas possíveis respostas são: a) Não existe vida inteligente extraterrestre, estamos sozinhos no Universo; b) O Universo é simplesmente grande demais; mesmo que haja vida, as distâncias interplanetárias não permitem contato; c) Com milhares de formas diferentes de vida e planetas peculiares pululando por todo o Cosmos, quem viria aqui?; ou a assustadoramente verossímil d) Nenhuma civilização com tecnologia suficiente para fazer contato sobrevive ao perigo de si mesma — como disse Einstein sobre o ignorante Homo sapiens, "nossa tecnologia está anos-luz à frente da nossa moralidade".

Equação de Drake
Nos anos 60, já familiarizado com o paradoxo de Fermi, o astrônomo Frank Drake propôs uma equação que hoje leva seu nome. Sua equação tinha o nada modesto objetivo de determinar a quantidade de civilizações com que poderíamos fazer contato. Estipulando alguns fatores em uma simples multiplicação de várias porcentagens sobre o número enorme de planetas disponíveis, encontrar-se-ia o número de civilizações acessíveis fora da Terra.

A equação é esta: N = R* . fp . ne . fl . fi . fc . L
Seu significado é, basicamente, que o número de civilizações (N) é o número de estrelas na galáxia (R*) vezes a fração das que contêm planetas (fp), vezes a média de planetas que possibilitam vida (ne . fl), vezes a porcentagem das vezes que essa vida chega a ser inteligente como a nossa (fi), vezes a chance de ter vontade e capacidade de estabelecer contato (fc), vezes — finalmente — o tempo que essas sociedades duram (L).

Naturalmente, muitos valores desta conta são aproximações ou estimativas forçadas. Não temos realmente como saber o tempo que sociedades avançadas sobrevivem; o máximo que podemos fazer é comparar com a nossa, que vive há menos de um século com tal capacidade. Esse fator, então, é o que gera mais controvérsias. Um valor cuidadoso, humilde, gera uma resposta aproximada de 10 civilizações inteligentes convivendo neste momento conosco na Via Láctea. Um valor otimista para L poderia elevar esse número a milhões.

Se, por acaso, ocorreu a você perguntar a função de Deus nessa equação, saiba que assim (supostamente) ocorreu a Napoleão, quando conversava com o matemático e físico Laplace sobre seu recente livro de astronomia, que explicava a gravitação dos planetas. Laplace teria respondido: "Eu não precisei dessa hipótese".

Cumplicidade platônica

Dias atrás, Gabriel García Marquez, prêmio Nobel de Literatura, disse em entrevista: "Eu escrevo para não ter que falar".
Eu também, Gabo, eu também...