21 de novembro de 2010

Apocalipse motorizado


O organizador do livro Ned Ludd (sim, é um pseudônimo - e bem escolhido), Ivan Illich e André Gorz fazem a abertura, elencando com clareza os problemas relacionados à sociedade do automóvel - as mortes nos "acidentes", a poluição ambiental, os problemas à saúde, o roubo do espaço comum, a opressão e o fim das cidades enquanto local de encontro e convívio. Ricamente recheado com dados, o livro Apocalipse motorizado - a tirania do automóvel em um planeta poluído, uma coletânea de textos, destrói o mito do carro, figura central na sociedade atual, estrela do crescimento econômico de nações desenvolvidas ou periféricas.

A opção pela bicicleta, mais eficiente; as ações antiestradas; uma cidade voltada às pessoas; o surgimento das bicicletadas pelo mundo. Os demais textos chamam à ação e sugerem alternativas para a transformação. Das mais simples às violentas (nada comparado à violência do próprio carro, uma das maiores causa mortis em todo o mundo), passando pelas artísticas e criativas.

Em 154 páginas, você pode passar por todos os dados sobre os efeitos do carro na sociedade, com uma análise lúcida mas radical, além de conhecer as ações e movimentos que já existem pelo mundo e passar por uma vasta lista de sugestões de ação - porque você certamente vai querer fazer alguma coisa.

Links:
Uma entrevista com Ned Ludd
Download do livro

12 de setembro de 2010

Atualização, enfim

Olá.

Acho que foi no começo desse ano que eu reafirmei a existência desse blog e disse que ele estava de volta, que eu ia postar regularmente (talvez tenha dito semanalmente), que eu ia mudar o layout dele, enfim. Ocupações mais urgentes, embora nem sempre tão importantes, me impediram. Digo isso apesar de valorizar bastante a minha maior fonte de preocupações e afazeres, a faculdade. Escrever pro blog frequentemente pode se mostrar mais importante que estudar para uma prova ou preparar uma apresentação de slides para um trabalho qualquer, que além do mais é apresentado semestralmente por quem quer que esteja cursando a disciplina no momento. O blog é unicamente meu, eu crio seu objetivo e execução. São responsabilidades minhas as questões de se isso deveria ser abordado, se isso é importante, se essa fonte é confiável, se algum assunto merece entrar. Além disso, redigir a partir daquilo que flutua na mente, não em palavras, mas em "mentalês", é um desafio agradável.

Feita essa breve ode ao blog
meio batida, é verdade e até meio ultrapassada talvez, visto que hoje o que é moderno é o microblog e eu tenho um onde eu estava mesmo? Ah! Feita essa ode ao blog, explico meus planos para o futuro dessa página.

Além do que mais que já entrava aqui, vez em quando (raramente!), pretendo resenhar ou comentar todo livro que eu ler. E talvez alguns filmes também. E talvez vídeos do youtube ou arte ou o que quer que seja. Pensando bem, isso já não seria novidade, seria basicamente escrever sobre qualquer coisa, como eu já faço. (Pausa: minha prosa tá truncada
pode ser que eu esteja com uma montoeira de ideias, todas se empurrando na minha mente, lutando para sair no papel digital pode ser que eu só tenha perdido o bom-senso da fluidez textual pode ser que eu esteja achando que isso é um recurso estilístico interessante enfim!). Vou escrever sobre o que ler a partir de agora. Talvez sobre um ou outro filme também.

Me alegra que você esteja lendo. (Assim, começando com um pronome mesmo, que é como se fala).
Até logo.

29 de junho de 2010

As ruas e a Copa do Mundo

Todo mundo imagina que as ruas das cidades devem ficar desertas durante os jogos do Brasil na Copa do Mundo. Eu, que não faço questão de torcer por alguns desconhecidos contra outros desconhecidos só porque aconteceu de os primeiros nascerem no mesmo pedaço de terra limitado por linhas imaginárias que eu (ufa!), aproveitei a ocasião para um tour pela cidade, de bicicleta e câmera fotográfica na mão. Foi dia 28/06, no jogo das oitavas-de-final, Brasil e Chile. A cidade é Florianópolis, no caso. Clique nas imagens para vê-las em tamanho bom e escolha suas favoritas!













1. 15h20, Av. Mauro Ramos
2 e 3. 15h40, Av. Hercílio Luz
4 e 5. 15h50, Rod. Gov. Gustavo Richard
6. 15h55, Av, Paulo Fontes
7. 16h, Conselheiro Mafra
8. 16h, Rua Tenente Silveira
9. 16h10, Rua Arcipreste Paiva
10. 16h25, Av. Paulo Fontes
11. 16h45, Av. Beira Mar
12. 16h50, Av Beira Mar

26 de junho de 2010

Florianópolis e a tarifa do ônibus

A prefeitura de Florianópolis novamente nos brindou com um aumento nas tarifas de ônibus recentemente. A notícia é de maio de 2010, mas poderia ser de 2006, 2007, 2008 ou 2009 (duas vezes!). Em 2004 e 2005, aumentos na tarifa foram revogados devido à força das manifestações populares, porém desde então as reivindicações da sociedade não têm alcançado vitórias claras, apesar de acontecerem anualmente.

A julgar pelo tamanho das manifestações, pela organização e pelo apoio da sociedade como um todo, este ano parece propício para novamente barrar um aumento que é ilegítimo (a tarifa mais cara do país, com aumentos muito acima da inflação, para um serviço ruim, etc.). Porém, impedindo ou não o aumento, o movimento terá fracassado se não fomentar com toda a população a discussão sobre a importância do transporte coletivo em garantir o direito constitucional de ir e vir, além de ser fundamental para diminuir a poluição, melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida geral.

Tarifa nova
Os ônibus são essenciais para a locomoção de uma grande parcela da sociedade, que não pode ou não quer ter carros e motos. Eles transportam muito mais gente com menor gasto de espaço e combustível – ou seja, por menos dinheiro e poluição. Porém, devido ao serviço ruim e caro, não é justo cobrar da população que troque o conforto e a autonomia do carro pessoal pelo ônibus lotado e com poucos horários, especialmente quando essa troca nem valeria a pena financeiramente! Pedro Magalhães, estudante de Engenharia Mecânica da UFSC, fez os cálculos para um carro que rode 10km por litro, a um preço de 2,50R$ por litro de gasolina, além de mais 0,10R$ a cada quilômetro em manutenção do carro, e sumarizou os dados no gráfico abaixo. Dirigir oito quilômetros sozinho de carro é mais barato que ir de ônibus!


Como pode um meio de transporte incrivelmente mais eficiente custar mais caro? A resposta é que o sistema é gerido por empresas, apesar de ser um serviço público. E, ao contrário dos governos que precisam ao menos conquistar metade da população uma vez a cada quatro anos, as empresas podem se preocupar direta e unicamente com seus lucros. Oficialmente, a prefeitura deveria fiscalizar a qualidade do serviço e tem poder legal para retirar a concessão das empresas, caso elas não estejam satisfazendo a população. No entanto, o que vemos é nosso prefeito ratificando todo ano os aumentos na passagem. Dário Berger se elegeu em 2004 com a proposta de abrir a “caixa preta” do transporte público, mas até hoje os lucros dos donos das empresas não são divulgados. Inclusive, o período legal da concessão das companhias que fornecem o serviço expirou em 2009, mas ainda não foi feita nova licitação.

Tarifa zero
Na contra-mão da valorização do transporte individual poluidor e ineficiente, existe a proposta da municipalização do serviço e da instituição da tarifa zero – transporte coletivo gratuito. Tal medida seria um grande incentivo para o uso dos ônibus, provavelmente acabando com os congestionamentos diários, diminuindo muito a poluição do ar da nossa cidade, a queima de combustíveis fósseis geradores de gases do efeito estufa e o gasto com novas estradas, viadutos, túneis e manutenção das ruas cada vez mais tomadas por carros. Além do mais, propiciaria o acesso livre à cidade como um todo para a população inteira, não apenas para os privilegiados motoristas.

Obviamente, alguém precisa bancar salários dos motoristas, manutenção, frota, combustível, etc. Porém, assim como a saúde e a educação públicas, esse serviço poderia ser pago indiretamente pela população através dos impostos. Mas isso não mudaria a situação caso não fossem instituídos impostos graduais, relativos à renda de cada família. Assim, quem tem muito pagaria muito; quem não tem, não paga. Todos teriam acesso pleno à cidade e uma nova política de redistribuição de renda seria implantada, fomentando justiça social. Existem outras opções: tributação sobre combustível e carros ou sobre os maiores geradores de tráfego, como indústrias, comércio e shopping centers, que também se beneficiariam do livre trânsito dos trabalhadores e demais habitantes da cidade.

A ideia parece utópica, mas ela já foi implementada e bem-sucedida em muitas cidades no mundo todo. Hasselt, na Bélgica, foi a primeira cidade do mundo a possuir passe livre em todas as suas linhas de ônibus, em 1996. Em dez anos, o uso de ônibus aumentou mais de 13 vezes e atualmente Hasselt possui poucos carros nas ruas (13x menos), mas muitos ônibus e bicicletas. Até na cidade de São Paulo, no início da década de 90, houve tarifa zero em alguns bairros da cidade, durante o governo de Luiza Erundina, à época do PT, mas que não foi mantido pelo governo que se seguiu, de Paulo Maluf.

A tarifa zero é viável e altamente positiva para a sociedade como um todo, tanto em termos sociais, visto que propicia a redistribuição de renda e torna real o direito de ir e vir, garantido na nossa constituição, quanto em termos de sustentabilidade, pois o ônibus é um meio de transporte muito mais eficiente, que polui menos e diminui nosso impacto no meio-ambiente. A sua implementação depende, basicamente, de aprovação popular. Se a cidade insistir, os políticos terão que aderir à causa.

Por uma vida sem catracas!

Mais informações:
http://tarifazero.org

http://lataofloripa.libertar.org

http://twitter.com/lataofloripa



14 de março de 2010

Love is a duel

"Emotionlessly she kissed me in the vineyard and walked off down the row. We turned at a dozen paces, for love is a duel, and looked at each other for the last time". (On the road - Jack Kerouac)

4 de fevereiro de 2010

FSM10: um outro mundo é possível

De 25 a 29 de janeiro de 2010, estive no Fórum Social Mundial, que aconteceu em Porto Alegre e nas cidades vizinhas. Para quem não sabe, o FSM é um dos maiores eventos da esquerda do mundo, senão o maior. Ele surgiu em 2001 com o tema "um outro mundo é possível", que na época falava diretamente da luta dos movimentos populares e de esquerda para criar uma alternativa à política neoliberal, que era predominante em todo o mundo. Todo ano o Fórum reúne movimentos sociais, ONGs, partidos políticos, sindicatos, jornalistas, estudantes, intelectuais e sonhadores; no ano passado houve um grande evento unificado, na Amazônia, e este ano haverá eventos espalhados por diversos lugares do mundo - o de Porto Alegre foi apenas um deles.

O Fórum, que já chegou a reunir 200 mil pessoas de mais de 100 nacionalidades nas edições unificadas, contou com cerca de 30 mil pessoas na grande Porto Alegre. Marcando os seus 10 anos, ele voltou à cidade onde se originou e buscou analisar o que se conquistou e para onde ele caminha agora, que objetivos deve ter e que estratégias tomar. Dentre os presentes esse ano, podemos citar o presidente Lula, as (pré) candidatas Dilma Roussef e Marina Silva, o ministro Tarso Genro, João Pedro Stédile, do MST e o sociólogo Boaventura de Souza Santos, entre tantos outros. Porém, seria muito míope caracterizar o Fórum por seus palestrantes: a relevância do evento é a reunião de milhares de pessoas comprometidas com a mudança social; centenas de organizações compartilhando informação sobre suas lutas, suas dificuldades e suas conquistas; centenas de atividades alternativas e abertas, programadas pelos próprios participantes; enfim, a multiplicidade de ideias e experiências é que faz a força do FSM e o tornou tão bem-sucedido.

Algumas coisas me chamaram bastante a atenção:

Acampamento Intercontinental da Juventude (AIJ)

Já é uma tradição do Fórum o Acampamento Intercontinental da Juventude: um local barato para ficar durante a semana do evento e uma experiência muito interessante em si mesma. Mais que apenas um camping, no AIJ acontecem oficinas, debates, palestras e shows (inclusive, foram mais de 100 shows no FSM, incluindo O teatro mágico, Os mutantes, Nação Zumbi e Marcelo D2). Dividido em campos temáticos, como o Espaço de Saúde Mercedes Sosa, a cidade do Hip-Hop e a Aldeia da Paz, cada qual com suas atividades específicas, o AIJ reproduz o espírito do FSM: um espaço aberto e livre, de organização democrática e horizontal.

Mas um grande problema merece nota: o AIJ ficava incrivelmente longe dos eventos, especialmente de Porto Alegre (demorava cerca de 2 horas para ir até a cidade, pegando um ônibus e um trem). Assim, os acampados (na maioria jovens) ficaram isolados de muitos eventos. O primeiro ônibus saía do acampamento por volta das 8 horas e levava até a estação de trem, por meio do qual se ia para Porto Alegre. Chegava-se na cidade por volta das 10 horas, enquanto as principais mesas de palestras começavam às 9 horas da manhã!

Muitas bandeiras, diversas lutas

Quando o Fórum surgiu, ele tinha um alvo principal: a política econômica do neoliberalismo. De fato, historicamente a esquerda luta contra um inimigo apenas, o capitalismo, o considerando a fonte dos males e problemas da sociedade. Felizmente, essa abordagem evoluiu para uma mais completa, que enxerga outros problemas da sociedade que ultrapassam a desigualdade econômica gerada pelo capitalismo, e o FSM hoje é o encontro de uma infinidade de bandeiras positivas. No primeiro dia do encontro, houve uma grande marcha unificada com todos os movimentos, os partidos, os sindicatos e as ONGs. Uma profusão de lutas importantes. Além de críticos do capitalismo, havia apoiadores dos direitos humanos, defensores da igualdade racial, da igualdade entre os sexos, dos direitos dos quilombolas, dos direitos dos indígenas, da laicidade do Estado e do respeito entre as religiões, do movimento LGBT, da natureza, da liberação animal, da reforma agrária, da reforma urbana, da legalização das drogas leves, das práticas de Economia Solidária e ainda outros. Todos por suas causas e pela causa global contra a opressão, a desigualdade e por um mundo melhor.

Socialismo do século XXI ou Esquerda de Vanguarda?

Como sabemos, houve aqui na América Latina nos últimos anos um fortalecimento da esquerda, através da eleição de diversos grupos políticos progressistas. Alguns desses, como o de Hugo Chavez e de Evo Morales, dizem estar caminhando para o "socialismo do século XXI". Esse novo socialismo se propõe a renovar as centenárias ideias de Marx e outros teóricos e, principalmente, evitar os erros cometidos pelos países que buscaram o socialismo durante o século XX - a burocratização, o autoritarismo, a perseguição, o genocídio, o desrespeito a grupos minoritários, o descaso com a natureza, etc. Certamente é do direito desses governos buscarem a sociedade que quiserem e a nomearem como quiserem, se os seus povos os apoiarem. Porém, o que notei em alguns palestrantes do Fórum, como no sociólogo português Boaventura, foi uma tentativa de aglutinar todas as bandeiras ali levantadas e juntá-las no conceito "socialismo do século XXI", o que é uma desonestidade com seus proponentes - nem só de socialismo vive a esquerda; havia no fórum social-democratas, anarquistas, pessoas alinhadas a outras ideologias e pessoas não alinhadas a nenhuma. A esquerda moderna deve apoiar as diversas lutas encontradas no Fórum, pois são questões importantes na busca por uma sociedade mais justa, igualitária, livre e fraterna, mas não precisa adotar o nome de socialismo - e talvez nem deva! A maior parte da sociedade tem uma opinião negativa do que é o socialismo, em parte por toda a propaganda contrária a esse sistema, mas principalmente por todo o mal que já se fez em seu nome. Não devemos correr o risco de ter ideias tão boas, como as encontradas nos movimentos do FSM, manchadas por tal associação. Socialismo do século XXI pretende não cometer os erros do passado e inovar? Pois inove-se também seu nome, e assim o caminho está livre para criar um outro mundo possível.

O que o FSM deve ser

Muito se discutiu, em especial nas mesas de abertura e encerramento, sobre que rumos os próximos Fóruns devem tomar. Por um lado, alguns argumentam que o FSM deveria buscar uma unidade em torno de algumas questões para se posicionar institucionalmente e poder ter uma influência maior nos rumos da sociedade, já que ele é a maior reunião de diferentes setores da esquerda. Nesse ponto de vista, o Fórum tem se tornado um fim em si mesmo, uma semana em que há muitos debates e ideias, mas que acaba sem uma conclusão e por isso não ajuda a construção de "um outro mundo possível" tanto quando poderia. Por outro lado, argumentaram muitos, a força e a importância do FSM é a sua própria multiplicidade, que seria ameaçada na busca de um consenso; algumas opiniões poderiam ser deixadas de lado e ele se tornaria uma instituição burocratizada e pouco atrante para alguns setores - o que não é difícil de imaginar, quando se tem em mente que lá se encontra desde anarquistas a partidos que não buscam nenhuma revolução, apenas reformas na sociedade. Assim, é essencial manter a pluralidade de ideias e práticas dentro do Fórum. O FSM pensa outros mundos possíveis; a luta política por outro determinado mundo é necessária, mas se dá em outros locais, específicos para tal feitio.

Lula no FSM10

Um dos eventos do FSM se chamava "Diálogos com o presidente Lula", no qual supostamente o presidente faria um discurso e responderia questões dos movimentos sociais. Era pra começar às 18h, mas Lula só chegou 20h30. E o mais surpreendente é que as sete mil pessoas que lotaram o estádio Gigantinho, de Porto Alegre, esperaram todo esse tempo cantando músicas que saudavam o político: "olê / olê olê olá / Lula / Lula!" e "Lula, / guerreiro / do povo brasileiro!". A plateia não era uma amostra balanceada das pessoas do Fórum, que tem muita gente criticando o governo Lula, mas estava repleta de membros dos partidos da base aliada do governo e dos sindicatos, o que explica tamanha popularidade. Ao apresentar o presidente, o representante da organização do FSM aproveitou para fazer 3 perguntas provocativas a respeito da COP15, da situação no Haiti e do PNDH-3, porém Lula não as respondeu diretamente, embora tenha tocado nos três assuntos. A fala do presidente foi muito alinhada às opiniões mais expressas no FSM: defesa de minorias, exaltação dos programas sociais, crítica ao sistema neoliberal, aos órgãos financeiros mundiais e ao Fórum Econômico Mundial de Davos. Também Lula falou muito de solidariedade ao Haiti, fazendo uma defesa do papel das tropas brasileiras que ocupam o país em Missão de Paz da ONU (Minustah). Apesar disso, dois pontos foram negativos em sua fala: primeiro o presidente defendeu o auxílio da Embrapa à plantação na savana africana, para que os países africanos possam se tornar exportadores - o que significa desmatamento da savana para o plantio de monoculturas, que danificam o solo e geram renda para os grandes donos de terra; segundo, Lula se orgulhou de não ter rompido com o FMI, ter pagado as dívidas brasileiras com o órgão e agora estar emprestando dinheiro para ele - o que significa que países mais pobres que o Brasil agora estarão emprestando dinheiro nosso com juros altos; passamos de explorados a exploradores. Diante dessas gafes, do atraso absurdo, da inexistência do diálogo que o nome do evento sugeriu e da esquiva às perguntas feitas pelo representante do FSM, chegou a ser assustador ver a festa que a plateia fez para o presidente, o tratando como um popstar e não com o ceticismo e criticidade com que os políticos devem ser julgados.


Alguns sites bons para ler mais sobre o Fórum:
site do FSM10, site do AIJ, cobertura Caros Amigos

17 de janeiro de 2010

Na balada III

"Outra coisa disse Clémence. A meu ver, a grande divisão do mundo, bem, à parte todo esse negócio de classes sociais, a grande divisão do mundo é entre os que vão às festas e os que não vão. E esta divisão da humanidade, que data da época do colégio, persiste toda a vida sob outras formas.
Eu não era convidado para as festas."
(Como me tornei estúpido, de Martin Page)

Na balada II

Tunts tunts tunts tun!
João pensava consigo mesmo que não podia ser o único ali que não estava se divertindo, então escreveu um cartão-convite-protesto:

"Aceito uma conversa não-falsa, não-banal e sem a pretensão de parecer cool."

Estendia o cartão pra lá e pra cá. "Só tem dois jeitos de gostar disso aqui: um é estar muito bêbado e o outro eu não sei", gracejou ele uma vez, duas, três. Por fim, desistiu.
Tunts!

Não que as pessoas do lugar fossem incapazes de uma conversa verdadeira.
Tunts!

Não que elas não se interessassem por assuntos relevantes e inteligentes.
Tunts!

João acabou concluindo que, de fato, a culpa é do ambiente. Lá não é o lugar. Aquele lugar é pra outra coisa. E ele até descobriu para quê, mas estava bêbado demais pra lembrar o que era no outro dia.
Tun!

16 de janeiro de 2010

Na balada I

Tunts tunts tunts tun!
João tanto olhava de um lado para o outro, ali sentado, que ela resolveu perguntar (e, afinal de contas, por que não fazê-lo?):
Tá esperando alguém?
Ele se sentiu triunfante ao responder:
A vida toda.
Aí a coisa já desandou de vez. Em instantes o semblante dela percorreu sorriso-simpático, surpresa-desagradável, comida-fora-da-validade e revira-os-olhos; assim ela se foi.

João chegara a acreditar que ela diria:
E como você sabe que ainda não encontrou?
Ao que ele responderia:
É exatamente a pergunta que venho me fazendo há segundos.

João não gosta de baladas.
Tunts tunts tunts tun!

4 de janeiro de 2010

Metablogagem II

Tenho aqui a evolução dos meus delírios, desde 2008. E que vergonha a gente sente das besteiras que escreveu no passado! Só não sente das besteiras do presente.

A esse comportamento irracional nós damos o nome de "opinião formada". Sorte que passa.

Metablogagem I

O sonho de todo blogueiro é ser lido por mais que apenas seus conhecidos. Mas isso requer um salto de qualidade absurdo. É a diferença entre as 28 horas de gravação de você engatinhando - que família e amigos adoram - e "O poderoso chefão".

Minha esperança é que tem gente que gosta até de "Bud, O Cão Amigo".