29 de novembro de 2008

Enchente(´), egalité, fraternité

Incidente
Sábado, 22 de novembro de 2008, começou a maior enchente da história da região de Santa Catarina e provavelmente do Brasil. Na maior parte do litoral do Estado, onde vive a maioria da população, chovia quase todos os dias há mais de um mês. Eu moro em Joinville, no norte do Estado, e a situação aqui não foi diferente. A água engoliu a cidade: ruas viraram rios e casas foram destruídas; muita gente perdeu móveis, roupas, eletrodomésticos e até a própria moradia. No resto do Estado, já foram confirmadas 109 mortes (em uma semana). Mais de 70 mil pessoas estão desalojadas ou desabrigadas.

Essa catástrofe aconteceu por uma infeliz soma de eventos metereológicos: há uma massa de ar frio sobre o oceano, próximo ao litoral. Existe uma frente fria úmida que vem da Amazônia e ela está presa por causa de uma massa de ar quente que está no Nordeste. A massa oceânica causa ventos anti-horários que jogam a umidade da massa que vem da Amazônia no litoral catarinense. Como temos uma serra separando o litoral e arredores do centro-oeste do Estado, toda essa umidade fica na nossa região, ocasionando toda essa chuva.

Na maioria das cidades afetadas, foram criados postos de coleta de roupas, alimentos, remédios, etc., que vêm funcionando graças às doações e ao trabalho voluntário.


Trabalho voluntário
Ontem eu fui tentar ajudar as pessoas, e eu fiquei impressionado. Um galpão enorme (Expocentro Edmundo Doubrawa), onde milhares (!) de pessoas trabalhavam recebendo as doações, separando roupas e alimentos, criando kits embalados e carregando os caminhões que partiam para os pontos afetados da cidade. Todos lá sem remuneração alguma, dedicando seu tempo e esforço pelo bem comum.

Você entra lá e pergunta para qualquer um: “como posso ajudar?”. Cadastra-se em um minuto e logo alguém te indica onde ser útil. Independente de para onde você vá, qualquer um ao seu lado logo o ensina o que você tem que fazer. Em pouco tempo chega mais gente, e você que estará ensinando a pessoa a ajudar.

Tudo aquilo é autogerido, as pessoas que se organizaram e prepararam. Não existe obrigação nem chefe; cada um faz por vontade de ajudar. Não existe hierarquia; quem está delegando as funções também está trabalhando. Cada um está pensando em como fazer melhor, como ser mais eficiente, então todos dão sugestões. O clima lá dentro é de total amizade, todos se ajudam, alguns brincam e todos se chamam pelo nome (que está no seu crachá). Por trabalhar lado a lado, surge a fraternidade. Também o trabalho é simples: escolher peças, separar comida, carregar os kits para os caminhões. Um pequeno universo com igualdade e fraternidade, baseado na ajuda mútua, sem obrigações.

Enfim, não vou me prolongar. Só isso: doem! doem roupas, doem alimento, doem remédios, doem dinheiro (só para as contas oficiais abertas para tal, pelo governo), doem seu esforço. Além de salvar e reconstruir vidas, é uma grande massagem na consciência.


Fotos, dados

12 de novembro de 2008

Touché

"Educação e religião são duas coisas não reguladas pela lei de oferta e demanda. Quanto menos as pessoas têm, menos querem".

Não sei quem é o autor, mas gostei.