24 de outubro de 2008

A outra mão do mercado¹

Dr. Frankenstein uniu várias partes humanas e criou um terrível monstro que acabou por matá-lo. Se de cientista maluco temos todos um pouco, nosso monstro é a economia mundial, feito com o dinheiro das civilizações antigas, partes do liberalismo francês e a exploração do homem sobre o homem — a moralidade foi deixada de lado, já que poderia atrapalhar tudo.

Vive-se hoje uma silenciosa transição de poder. Os grandes líderes mundiais, que a população imagina em secretas reuniões a tramar esquemas imorais, não são mais altos cargos da burocracia estatal. Junto à Guerra Fria, acabou a Era dos Governos. Os manda-chuvas atuais são os acionistas majoritários das grandes corporações, que têm um só objetivo: lucro.

A subordinação dos valores morais à racionalidade econômica é gritante quando analisamos fatos como as guerras americanas ao Iraque, apoiadas no Congresso pelo milionário lobby das companhias petrolíferas, as chamadas Sete Irmãs; a onda neoliberal, o chamado Consenso de Washington, cuja maior reivindicação é o fim dos direitos trabalhistas; ou a maior distribuição de lucros aos acionistas da empresa de tabaco Santa (?) Cruz, um motivo econômico para atrair aqueles receosos em investir em um produto que mata milhões de pessoas por ano.

Uma mão do ser que criamos é aquela de que nos falava Adam Smith, a que guiaria a economia. Depois da crise de 1929, do descaso secular das corporações com pessoas e meio-ambiente e da possível crise atual do capitalismo, descobrimos que a outra mão tapa os olhos do nosso monstro. Sem controle popular do mercado mundial, continuaremos dirigindo nessa rua esburacada, guiados com velocidade, em direção a um muro.


¹ Redação com o tema proposto "Ética e Mercado", na qual era necessária a frase "A subordinação dos valores morais à racionalidade econômica".

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